Tal como uma semente, que tem que cair em solo fértil para vingar, também
uma ideia, um desejo, um amor, precisa da mesma fertilidade, e das condições de
protecção e evolução para crescerem forte e saudavelmente. Mas é no exterior
que tantas vezes nos focamos. Procuramos coisas, amor, realização... Procuramos
o que pensamos querer (e precisar) para nos sentirmos a viver. Em vão, esperamos
que cresça, apesar de não lhe darmos solo (ou colo). Na verdade, esse só existe
no nosso interior. Sem sabermos, toda a fertilidade de que necessitamos está
dentro de nós. É no ventre que se gera e cresce a vida, ciclo após ciclo.
É aí que começam os milagres. Mas a vida não é exclusiva de um novo Ser
que venha ao mundo. Vida é tudo o que conseguimos construir, gerar, fertilizar
ao longo de uma vida já existente, e tão preciosa quando qualquer outra. A
nossa.
Focados no exterior, procuramos elogios, procuramos que nos amem,
procuramos que nos valorizem e dêem reconhecimento. E por vezes, até o
conseguimos ter. Mas aí, tal como escravos da “exterioridade”, continuamos a
mendigar, a lutar por mais, na expectativa de que possamos sentir que ganhamos um
pouco também dentro de nós. De alguma forma, é como fixar-nos numa semente, e contemplá-la
longamente, sem lhe pôr terra, sem a regar, sem a cuidar e amar
verdadeiramente, ainda que com a expectativa de a ver crescer e a poder
“sentir”. Por vezes até, há quem agarre essa semente, e que tente cuidar dela no
nosso lugar. Mas aí, nunca será a nossa semente e no íntimo sentimos isso. O
que queremos para nós, só pode vir do mais fundo das nossas entranhas. É aí que
se esconde a “Alma”. É aí que guardamos a Vida. A nossa vida. É por isso que
digo que só vive verdadeiramente quem se vive a si mesmo. Quem olha, vê,
contempla e cuida do seu interior. Quem chora as suas mágoas, sorri as suas
alegrias, ama e odeia cada minuto da sua própria vida, numa honestidade (tão
difícil quanto libertadora) do que verdadeiramente é, e tem. É no interior que se
gera uma vida, é no interior que se guarda a vida de quem partiu, é no interior
que vive quem amamos, é no nosso interior que vivemos verdadeiramente. Só
assim, germinará a semente e abrirão um dia as suas flores, crescerão os seus
frutos, que esses sim, contemplarão o sol e farão as delícias de quem
escolhemos ter, também, no nosso exterior.
Originalmente publicado em "Noticias de Cá e de Lá" edição 42 de 10 de Agosto.
Originalmente publicado em "Noticias de Cá e de Lá" edição 42 de 10 de Agosto.
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