A definição mais comum da palavra
"política" remete para a "habilidade, prática ou ciência de
governar uma nação". Este conceito assenta no pressuposto de que existem
assuntos que dizem respeito, interessam e afectam todos os cidadãos, embora
possa ser aplicado (diria mais "usado") de formas muuuuuito
diferentes (e tantas vezes questionáveis). Ainda que se possa organizar das
mais diversas maneiras, regra geral, trata-se de um grupo (grande) de pessoas,
representado e/ou liderado por um grupo mais pequeno de pessoas, que por sua
vez, se faz representar ou segue um determinado indivíduo.
O topo da pirâmide, carrega em si, a
responsabilidade do bem estar de uma nação e de toda a sua população, e
idealmente, estaria ocupado por pessoas maduras, mentalmente sãs e com um bom
nível de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal. Na realidade, os
cargos políticos são, ou deveriam ser, por definição, cargos de
"serviço" ao outro. No entanto, não é fácil ter essa vocação. Para
servir, é preciso ser-se inteiro e não se estar a compensar
"fragilidades" do ego. É preciso não precisar do amor do outro, que é
como quem diz, não precisar de ser admirado ou venerado. Só quem é dotado de
grande sabedoria e compaixão, só quem consiga interessar-se verdadeiramente
pela individualidade e aceitar a diferença, consegue estar à altura de cargos
políticos.
A questão é que, para além do altruísmo
genuíno, da maturidade psicoafectiva, do desejo de fazer positivamente a
diferença na vida das pessoas, a política (e em particular as funções de topo)
torna-se particularmente atractiva para um tipo muito particular de
personalidade. Na Perturbação Narcísica da Personalidade, o individuo sente
necessidade de protagonismo e alimenta-se de ideias de grandeza. É verdade que
muitas vezes procuram compensar sentimentos de insignificância e de
inferioridade, mas o facto é que se "defendem" pela arrogância, e
pautam-se por um implacável egocentrismo. Normalmente, existe acima de tudo uma
incapacidade de ver o mundo por um ponto de vista diferente do seu, acreditando
que só está bem feito o que é feito à sua maneira e de acordo com as suas
crenças. As ilusões de superioridade e a necessidade de criar uma realidade em
que se sinta especial e importante, levam estas pessoas a procurar funções que
lhes proporcionem notoriedade social, reconhecimento e/ou fama. E infelizmente,
nada melhor do que a política, certo?
É fazer-se ver, fazer-se ouvir, conseguir
criar uma estranha forma de carisma, e assim, conquistar votos. O problema
é que a seguir às eleições vem mais, muito mais. Vimos nós todos. Os que
sustentam a pirâmide. E quando quem "ganha" não tem em si o que
realmente é preciso, então aí, estamos todos "trumpados"!
Originalmente publicado em "Notícias de Cá de Lá" nº 45 de 10 de Dezembro de 2016.
Autora: Ana Guilhas