Na vida, as contradições são muitas, e nem sempre o que se apresenta aos
olhos é o mais importante de se ver. Outras tantas vezes, não representa aquilo
que realmente sentimos, queremos ou sabemos no nosso íntimo.
E assim, podemos estar muito longe de pessoas que estão ao nosso lado, e
muito perto de quem já partiu. Podemos fugir de amar e sermos amados, quando na
realidade o Amor é tudo o que mais precisamos e queremos alcançar. Podemos
manter-nos sós, quando queremos profundamente partilhar-nos com alguém. Podemos
ter medo de morrer, quando intimamente sentimos que não estamos a
viver. Podemos ter medo do que não nos faz mal, submetendo-nos a uma vida de
perigosa insatisfação. Podemos acreditar na felicidade futura, desprezando a
vivência do hoje. Podemos desejar o amor de quem mais odiamos (e amamos).
Podemos querer receber, sem sabermos o que temos em nós para dar.
Com uma grande dose de coragem e um desejo forte de viver plenamente, é
para dentro que aprendemos a espreitar. Aí, abrimos espaço para perceber que a
verdadeira luta a travar não é contra o mundo, mas é sim interna. E quem se
sente só, tem que caminhar em direcção ao outro. Quem se sente vazio, deve dar
a si mesmo. Quem aceita viver a tristeza que tem em si, sente-se cada vez mais
capaz de alegria. E um mundo que parece tão injusto e tão cheio de
incoerências, diz-nos que a vida pode ser também doce e prazerosa. Mas para ter
prazer com o que fazemos, temos primeiro que ter prazer no que somos.
Só vive livre quem aprende a encontrar em si, as suas incoerências. Só vive
bem, quem aprende a entendê-las. Só vive com poder, quem não aceita
render-se.
Originalmente publicado em "Notícias de Cá e de Lá" nº 40, 10 de Maio 2016
Originalmente publicado em "Notícias de Cá e de Lá" nº 40, 10 de Maio 2016
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