segunda-feira, 2 de maio de 2016

"A Passagem"

 - Um pouco fora de horas, mas gostaria de partilhar convosco este texto que escrevi. Porque muitas "passagens" acontecem ao longo de toda uma vida  - 

Este ano foi difícil para mim desejar às pessoas uma “boa Páscoa”. Porque é difícil pensar no que seria uma “boa Páscoa” quando pelo mundo fora se vêm tantas atrocidades, medo, ódio e ignorância a imperar e a intoxicar a nossa forma de viver. Se é que ainda existe uma forma verdadeiramente livre de viver!
No entanto, e ao que parece, etimologicamente o termo Páscoa, deriva da palavra hebraica "Pessash" que significa “passagem”. E aí lembrei-me de quantas vezes os momentos mais difíceis e dolorosos podem constituir verdadeiros momentos de passagem para uma nova fase, uma nova forma de pensar, sentir, questionar e aceitar. Tudo depende do que cada pessoa faz com esses momentos, bloqueadores para muitos e tão reveladores para outros. A diferença está na capacidade de reconhecer o amor onde ele existe verdadeiramente, e perceber-se a si mesmo e aos outros como merecedores desse mesmo amor. Está na possibilidade de sentirmos que não somos “sós” e que podemos escolher quem nos acompanhe neste caminho.
A Páscoa é, portanto, a celebração também de todos os momentos de transformação. A superação da dor e do desafio. É também acreditar em novos ciclos e numa forma muito especial de renascer em vida. Porque a vida pode ser renovada vezes e vezes sem conta, transformada por um poder pessoal verdadeiramente criador (e que existe em todos nós).
E, por isso, também da dor se fazem novos ciclos, também da dor se fazem crescimento e evolução. 
Povos antigos acreditavam que o coelho era símbolo de fertilidade e renovação. Também os ovos têm um significado de continuidade. Representam o inicio de uma nova vida, estabelecendo a ligação (passagem) das suas raízes, ao futuro e à “vida eterna” através da passagem dos genes.
Por isso, e depois de passada a Páscoa, e com todo o horror, medo e indignação que possamos estar a viver nos últimos tempos, espero que “o coelhinho” continue a tocar todos os nossos caminhos, deixando muitos ovos para abrir, lembrando-nos sempre que, de uma forma ou de outra, todos fazemos parte de um mesmo, maravilhoso e “eterno”, ciclo da vida. 

Cabe a cada um de nós dar-lhe sentido, sempre!

Publicado originalmente no Jornal "Notícias de Cá e de Lá" nº 39 - 1 de Abril 2016

Sem comentários:

Enviar um comentário

Estou-lhe muito grata. Saiba que a sua participação acrescenta valor a este blog.