quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Entrada para o 1º ciclo - Ultrapassar o "nó na barriga"

O seu filho vai entrar para o 1º ciclo? Quando pensa nisso, como é que se sente? Fica com um brilho nos olhos, sente um aperto no estômago ou dá-lhe um friozinho na barriga?

Esta etapa na vida de uma família, costuma trazer consigo entusiasmo, expectativas e sobretudo, muitos receios. Todas as etapas de transição implicam, por natureza, expectativas, dúvidas, medos e às vezes até alguma angústia. Todos os elementos implicados no processo sabem que têm um papel a assumir e querem cumpri-lo melhor que ninguém. No entanto, todos se debatem com as suas próprias dúvidas e inseguranças e é isso que torna estes "grandes" momentos tão ambivalentes.

Não pretendo alongar-me acerca do que vai mudar da realidade do pré-escolar para o 1º ciclo. Até porque na realidade esse será um factor de menor importância em todo o processo. Ainda assim, importa referir que existem efectivamente diferenças relevantes como a forma como o seu filho vai passar a viver o espaço (agora e cada vez mais, centrado numa mesa, num quadro, em folhas/ cadernos) e adquirir novos hábitos de trabalho e novas regras. Passarão a existir sobre a criança expectativas de um certo “bom” comportamento e de aprendizagem e é aí que, subtilmente (ou nem por isso), se introduz o conceito de sucesso (e insucesso) escolar. Os critérios de avaliação do percurso do seu filho deixam de se centrar no domínio sócio-afectivo (linguagem, capacidade de estabelecer boas relações com os pares e com o adulto, persistência, autonomia, etc.) e passam a centrar-se em critérios académicos (produção escolar e atitude face ao trabalho e às regras). Mas, como dizia, mais importante do que estes aspectos, hoje sabe-se que o sucesso ou insucesso escolar corresponde (muito) frequentemente a uma adaptação escolar bem, ou menos bem, sucedida. Ou seja, sucesso escolar é na realidade sucesso no processo de adaptação escolar e, o contrário, é igualmente válido.


Como é que os pais podem ajudar?


Antes de mais, é fundamental que toda a família reconheça e compreenda que medos, dúvidas e insegurança não são vividas exclusivamente pela criança, antes pelo contrário. Também os pais transportam para o processo as suas próprias vivências, medos e inseguranças. Por isso mesmo, este talvez seja um momento interessante para que os pais se recordem de como foi vivida a sua própria escolaridade em todas as suas etapas. A tendência será para projectar muito do que é nosso nos nossos filhos. É importante compreender que este é um novo caminho que se inicia. Pensar se o seu filho vai fazer amigos com facilidade, gostar do professor, ter dificuldades com esta ou outra disciplina, é viver hoje o que ainda não existe. E quando vivemos no que poderá, eventualmente, estar para vir, temos menos disponibilidade para viver o que hoje está a acontecer.

Depois, é necessário ter em linha de conta que também os seus próprios receios e inseguranças como pais poderão interferir. Isto porque deixar crescer os nossos filhos não é um processo necessariamente pacífico e livre de conflitos internos. A entrada de um filho para a escola é mais um confronto com o facto de que a vida dele não nos pertence, e que a nossa função é apenas a de o preparar para que um dia possa seguir o seu caminho (de preferência, com a qualificação máxima de doutoramento em amor).

Posto isto, a verdade é que se estivermos alerta para as nossas próprias emoções, então estão criadas as condições para separarmos as águas e evitar que as mesmas interfiram no processo de adaptação do nosso filho, que deve ser livre e vivido apenas à sua imagem.


Ficam algumas dicas...
  1. Sinta que é fundamental que o seu filho aprenda a crescer. E para aprender a crescer, é importante que viva conflitos e aprenda a ultrapassar os seus desafios. Proteger demasiado o seu filho de frustrações e dificuldades pode torná-lo mais frágil e vulnerável. Vai entrar para a escola? Que desafio maravilho que aí vem!
  2. Incentive e fale sobre a entrada para a escola, mas evite longas e insistentes explicações que poderão gerar desconfiança e ansiedade;
  3. Evite mensagens contraditórias como dar recompensas ao seu filho por ter ido à escola. Se ir para a escola é bom e normal, então porque é que tem que ser (re)compensada? Estas prendas revelam muitas vezes a culpabilidade dos pais e a sua ambivalência;
  4. Seja carinhoso mas firme mostrando que não tem dúvidas de que o seu filho vai ficar bem;
  5. Organize a rotina de forma a garantir alguma tranquilidade (nada pior do que chegar à escola depois de uma manhã de correrias e zangas por causa de atrasos);
  6. Para uma boa adaptação é imprescindível que a criança esteja estável física e emocionalmente (se existirem conflitos latentes ou abertos em casa, a criança tenderá a transportar essa desarmonia para a escola);
  7. Converse com o seu filho sobre o seu dia-a-dia. A melhor estratégias será falar do seu próprio dia de forma emocional (e não apenas sob a forma de relato). Assim estará a ensinar-lhe a fazer o mesmo (por exemplo “hoje fiquei triste com X" ou "aconteceu Y que me deixou muito feliz e orgulhosa”);
  8. Dê sempre, prioridade à pessoa que o seu filho é e não aos resultados que obtém. Se se esforçou muito e os resultados não foram os desejados, então o mais importante no processo foi de facto o esforço. Os resultados podem ser bons hoje e maus amanhã. Continuar a esforçar-se e aprender a corrigir o que não correu bem é a única forma de chegar onde pretende.
  9. O seu filho entrou para a escola mas continua a ser uma criança, precisa acima de tudo de brincar muito e sentir-se profundamente amado, sempre;
  10. Saiba que o conceito de sucesso escolar está sobrevalorizado. Não existe uma relação directa entre sucesso escolar e sucesso na vida (principalmente se considerarmos que ter sucesso na vida é ser feliz);
  11. Mantenha-se focado no que é verdadeiramente importante. O seu amor e atenção serão os dois factores mais estruturantes ao longo de todo e qualquer processo de adaptação pelo qual o seu filho possa passar. Mais do que isso, são os elementos mais protectores da vida dele.

Agora chegou o momento para perguntar: Sente-se preparado/a para que seu filho entre no 1º ciclo?

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