segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Verdade Sobre os Refugiados

Eu diria que a grande maioria de nós, pessoas que não estão a viver directamente a realidade dos refugiados, dificilmente poderá ter acesso à ou às “verdades” por detrás deste fenómeno. E embora considere que toda a humanidade esteja implicada, de uma forma ou outra, neste processo, quando falo de quem esteja a viver directamente esta realidade, refiro-me a quem está lá, fisicamente, na linha da frente, como refugiado de guerra, migrante, funcionário ao serviço dos países que recebem, voluntário, jornalista ou simplesmente curioso. Acredito que até para estas pessoas, o que os seus olhos vêem, tem tantas interpretações quanto consciências. E consciência, bem ou mal, cada um vive com a sua e alimenta-a da forma como desejar.

Mas para mim, este é sobretudo um momento de outra verdade. Verdade, que estava escondida neste nosso modo “automatizado” de viver, em que só nos damos a conhecer, a nós e aos “nossos”, em tempos de crises internas, e aos outros, em tempos de crises colectivas.

A verdade sobre os refugiados? A única que me parece incontestável é a de que toda e qualquer pessoa apenas consegue dar o que tem em si mesma. E de repente, algumas pessoas só conseguem focar-se nos seus medos (“E se eles vêm cá para nos fazer mal? E se isto tudo for apenas um grande "complot" contra a Europa? E se nos tirarem o trabalho, casas e nos deixarem na miséria?”), outras apenas têm raiva e ódio para dar (“não são como eu, não são iguais ou parecidos comigo, não são, portanto, dignos do mesmo que eu, nem da minha compaixão”), outras negam a realidade e agem como se nada fosse (movimento alimentado por um desprezo, de resto, muito parecido com o ódio). Do outro lado, temos o grupo de pessoas que se transforma e transforma o mundo com o seu amor, solidariedade e capacidade inesgotável de valorizar a Vida. Pessoas que têm necessariamente em si, coragem, força e esperança para dar. Pessoas quem têm apenas um medo, o medo de um dia deixarmos de ser suficientemente “humanos” …

Se tivéssemos o azar das “profecias” cinematográficas, sobre o fim dos tempos, se realizarem, o que seria de nós? O que veríamos em nós? Temos pois, pessoas que se unem, ajudam e partilham o que têm em nome de uma sobrevivência colectiva. Temos pessoas que se juntam em grupos restritos de sobrevivência (genética, geográfica ou qualquer outro critério que consigam inventar), aniquilando ou desprezando quem consideram não pertencer. Outros, paralisados pelo medo, deixariam morrer crianças diante dos seus olhos e, quem sabe, deixar-se-iam morrer também.

A nossa verdade está na resposta a estas perguntas: De todas estas pessoas, quem é que gostaria de ser? Quem é que gostaria de ter por perto? E quem verdadeiramente é?


Originalmente publicado no Jornal de "Notícias de Cá e de Lá", nas crónicas "Com Sentido...", edição de Setembro 2015.

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